Convivendo com a cinza do vulcão Puyehue (CHL)
Presença de cinza vulcânica na cidade de San Martin de Los Andes (ARG)
São mais de vinte dias que também estou convivendo e adaptando-me as regras que o vulcão Puyehue (CHL) está impondo a toda a região das vales da alta Patagônia Argentina, e a tosse com olhos e garganta constantemente irritados tornaram-se companheiras desta parte da minha viagem. Atualmente San Martin de Los Andes (ARG) é a que menos foi afetada pela cinza vulcânica. Ou melhor o que recebeu menos e continua, visto que o vulcão Puyehue (CHL) está ainda ativo, recebendo uma menor quantidade de cinza comparada as outras cidades turísticas mais acerca do vulcão. Na vegetação entre a cidade e o centro de esqui de Chapelco (ARG) a cinza é bem visível, as árvores e todas as plantas estão limpas, mas a terra apresenta constantemente um extrato de poucos centímetros de cinza. É que por aqui já ventou bastante e intensamente e isso ajudou a espalhar a cinza rapidamente e apesar de ter dias nos quais o vento trás nova cinza em San Martin de Los Andes (ARG) a primavera está fazendo o próprio curso e as típicas flores e plantas da região estão florescendo. O centro de esqui de Chapelco (ARG) não teve problemas de cinza na neve, ou pelos menos muito pouco. A neve estava definitivamente branca da base até o “Teta” e a presença de cinza era perceptível somente para os maníacos da cera para esqui, pelos quais a solução definitiva parecia ser a de colocar silicone liquido na base dos snowboards/esquis.
A cinza passa abaixo do centro de equi de Chapelco (ARG)
Estes últimos dias de temporada invernal e com temperaturas mais elevadas derreteram a neve na base e em outras áreas da montanha revelando a presença de um significativo extrado de cinza que depositou-se antes das nevascas que tardivamente embrancaram este ano os centros de esqui e que provavelmente poderá complicar as atividades de verão do cerro.
O Vulcão Puyehue e a névoa de cinza
Na cidade de Bariloche (ARG) a cinza vulcânica encontra-se principalmente nas áreas periféricas e relativamente pouca na região comercial e turística do centro. Porém os sinais de cinza são bastante presentes e difundidos em qualquer lugar, aumentando sensivelmente nas regiões rurais e da periferia, onde podem ser encontrados ainda grandes acúmulos de cinza a qual é continuamente retirada, de forma totalmente manual, pelos donos dos terrenos/casas particulares. A cada carro que passa na estrada, especialmente nas secundárias e afastadas do centro, as quais pela maioria não são asfaltadas, levanta-se uma enorme nuvem de poeira vulcânica irrespirável que fica suspensa no ar por mais tempo do que uma poeira “normal”. A terra e todas as áreas urbanas “verdes” são totalmente cobertas por cinza, como inevitavelmente são os pavimentos da maioria dos edifícios como casas e comércios que estão constantemente empoeirados. A finíssima consistência de poeira permite a cinza de se infiltrar, ajudada pelo vento, por todas as minúsculas fissuras de portas/janelas/paredes e após dois meses, desde quando o vulcão Puyehue (ARG) entrou em atividade, a população local acostumou-se com a presença dela a tal ponto que já virou “membro de família”. Para um turista como eu a parte mais difícil foi acostumar-se com algo de crocante constantemente na boca e visto que durante o dia estava nas pistas do Cerro Catedral (ARG) sem significativas quantidades de cinza, outro problema de adaptação encontrei na casa onde estava hospedado em Bariloche (ARG), a noite necessitava cobrir o nariz e a boca com uma bandana para poder respirar e dormir com um poco mais de tranquilidade e conforto.
Um bairro de Villa la Angostura (ARG)
Villa la Angostura (ARG) é chamada carinhosamente também de “jardim da Patagônia” e como já havia visitado antes do desastre do vulcão Puyehue (ARG) pude bem entender e confirmar o motivo deste apelido. Infelizmente a pequena e charmosa cidade turística encontra-se a quarenta quilômetros do vulcão em linha reta e dependendo do vento não tem nada que possa barrar a chegada constante e abundante de cinza vulcânica, a qual chega de forma frontal invadindo e contaminando toda a cidade e as neves do centro de esqui do Cerro Bayo (ARG). Há dois meses da primeira erupção (4 junho 2011) Villa la Angostura (ARG) encontra-se mergulhada em um paisagem totalmente cinza, surreal e toda a área é densamente militarizada tanto para manter a ordem das coisas, quanto para ajudar o povo a, literalmente, ressuscitar das cinzas. O esforço para voltar a normalidade é perceptivelmente imenso e contínuo, mas são muitas as casas que foram abandonadas e muitos comércios inevitavelmente fecharam. E os que ficaram estão lutando incessantemente para reagir a este desastre natural que está abalando a vida da região. É realmente muita cinza por todo lado. Uma amiga comentou que precisou mais de 45 caminhões somente para limpar o jardim e que ademais o serviço de energia elétrica é atualmente precário e que a fonte de água do bairro onde ela tem casa está irremediavelmente comprometida desde a primeira erupção. Todo o tempo livre e/ou de descanso após o trabalho de qualquer cidadão de Villa la Angostura (ARG) é usado para tirar cinza e tentar limpar o território, mas o grande problema é que “a noite anterior” caíram mais 3/5 cm de cinza…exatamente como no outro dia…da mesma forma também na semana passada…e isso é uma triste constante que, dependendo do vento, persistirá até quando o vulcão não irá parar com a sua atividade, coisa que ninguém sabe ou pode prever. Ao se aproximar desta região, a mais afetada de todas, pode-se perceber que até a vegetação está com sérias dificuldades para resistir e sobreviver a este fenômeno tanto natural quanto catastrófico. O terreno está totalmente coberto por cinza de pelo menos uns 10cm. que não deixa filtrar água suficiente no terreno e a maioria das folhas das árvores estão cobertas por cinza vulcânica complicando o natural processo de fotossíntese…
Cortesia Cerro Caviahue (ARG) – Foto: Pablo Casado
E domingo esta convivência com a cinza irá (espero…) acabar. Já estou arrumando as coisas no meu snowbag para a última aventura desta temporada invernal sul americana. Próxima destinação Cerro Caviahue (ARG) para prestigiar a terceira edição do Snowkite Camp+Jam organizado pela Associação Argentina de Snowkite (AASK). Detalhe: Caviahue (ARG) encontra-se na base do vulcão Copahue (ARG) atualmente ativo e fumante. As últimas atividade perigosas dele foram registradas em 1992, 1995 e 2000 e os geólogos supõem que o vulcão Copahue (ARG) seja geologicamente conectado diretamente ao vulcão Puyehue (CHL) e por isso está sendo monitorado cuidadosamente!
Mais detalhes e infos AQUI.
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